06/01/2025

A Militarização das Escolas em Rio Preto: Um Retrocesso para a Educação Pública e a Justiça Social

A militarização das escolas públicas em São José do Rio Preto, defendida pelo prefeito Fábio Cândido, vem sendo apresentada como uma solução para problemas estruturais da educação, mas é justamente o inverso. Longe de resolver questões como indisciplina, evasão e baixo desempenho, a militarização impõe um modelo autoritário e de submissão, que afeta diretamente as populações mais pobres da cidade.

Um aspecto central dessa política é o fetiche da disciplina que sustenta esse discurso. A militarização é vendida como uma resposta à indisciplina nas escolas, mas, na prática, o que é imposto é a subordinação e o autoritarismo. A verdadeira disciplina, essencial para todas as concepções pedagógicas, é algo completamente diferente do modelo militar: ela nasce do diálogo, do comprometimento e do respeito mútuo. Por outro lado, o modelo militarizado sufoca a capacidade de reflexão e autonomia dos estudantes ao impor regras pelo medo e pela autoridade cega.

Enquanto isso, nos países com os melhores sistemas educacionais, como Finlândia, Noruega e Canadá, a militarização passa longe. Nesses países, a educação é construída com base em metodologias que incentivam a criatividade, a autonomia e o pensamento crítico. Os ambientes escolares são acolhedores, com liberdade para explorar ideias e promover o aprendizado. A educação é vista como uma ferramenta de emancipação, não de controle.

Em contrapartida, nos países mais pobres ou marcados por desigualdades extremas, a militarização da educação é usada como instrumento de contenção social. Na Nigéria e nas Filipinas, por exemplo, a presença militar nas escolas é justificada como solução para questões de segurança, mas, na prática, limita as possibilidades de emancipação dos mais pobres. Esse mesmo padrão se reflete no discurso do prefeito de Rio Preto, onde a militarização das escolas públicas afeta diretamente as crianças da classe trabalhadora, enquanto as elites estudam em instituições que estimulam a liderança, a criatividade, a reflexão crítica e a inovação.

Em São José do Rio Preto, o atual prefeito, Fábio Cândido, reforça essa lógica ao apresentar as escolas cívico-militares como uma forma de contenção social nos bairros mais pobres. Essa política representa a manutenção de “projetos sociais” com a usurpação de recursos da educação, perpetuando a ideia de que as escolas pobres são destinadas aos pobres. Essa abordagem aprofunda a desigualdade, oferecendo uma educação punitivista e autoritária para as comunidades mais pobres, enquanto negligencia investimentos que realmente fariam a diferença.

Nós queremos uma educação de qualidade, com escolas que tenham infraestrutura adequada, menos alunos por sala de aula e a valorização salarial dos profissionais da educação. Defendemos um plano de carreira que valorize e incentive a formação continuada dos professores, promovendo um ambiente de aprendizado inclusivo e democrático, e não uma concepção punitivista que restringe o potencial dos estudantes.

Por isso, é urgente resistir a esse modelo e lutar por uma educação pública de qualidade, que valorize a diversidade, o pensamento crítico e a criatividade. As escolas devem ser espaços de liberdade, de construção de conhecimento e de promoção da cidadania, e não ferramentas de controle social que reforçam as desigualdades.

 
Fonte: Fabiano de Jesus - Coordenador da ATEM SINDICATO

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