26/02/2025

Carta de Repúdio às publicações do membro do poder legislativo municipal, senhor Bruno Moura

Escrevemos para exprimir nossa consternação pelo suposto ocorrido com uma criança, dentro de uma unidade escolar da rede municipal. Prestamos nossa solidariedade à família desta criança e acreditamos que este caso não pode ser utilizado para promoção pessoal ou política em rede social. Demonstramos nossa discordância e pedimos alterações e mudanças na forma de contratação, capacitação e orientação dos prestadores de serviços das empresas terceirizadas que, diariamente, enviam pessoas para trabalhar diretamente com as crianças. Externamos nosso mais completo repúdio pelas palavras, publicações e ações praticadas pelo legislador municipal. Além disso, prestamos nosso apoio à diretora da unidade escolar em que houve o ocorrido e a toda a sua equipe, pois apesar dos desafios diários, temos profissionais comprometidos, responsáveis e conscientes em nossas escolas, que jamais se omitiram ou se omitiriam; jamais atentaram ou atentariam contra uma criança.

Atentamos para o que ocorreu na rede social Instagram, no dia 19 de fevereiro de 2025, através de publicação de vídeo e de uma enquete publicizada pelo legislador em seu perfil pessoal. Em ambas as publicações (vídeo e enquete), assim como em seus comentários que respondeu àqueles que comentavam, concordando ou discordando de suas palavras e da forma que ele estava se posicionando diante do caso em investigação, repudiamos suas palavras e opiniões, pois no material publicado há o risco de incitar a comunidade escolar e a população como um todo a compreender que há dúvida sobre as ações e procedimentos adotados diante do caso em investigação, ocorrido contra uma criança, nas dependências de uma escola da rede municipal de ensino. O membro do poder legislativo municipal, em suas escritas e falas, lançou dúvidas sobre a atuação da diretora escolar, assim como, em um de seus comentários, afirmou “uma negligência muito grave, estamos indo pra cima”. No vídeo que gerou repúdio entre a categoria de gestores escolares, os especialistas da educação, havia a seguinte frase: “Exigimos justiça e queremos respostas! Como que a direção da escola não sabia de nada?” e, para intensificar, após inúmeros comentários que questionavam a postura do legislador e o aconselhava e alertava sobre a postura adequada ao serviço público exercido por ele, assim como a se retratar com a diretora, o mesmo lançou uma enquete para as pessoas votarem, “Pra você:”, tendo duas opções: “A direção [da escola] tem culpa!” e “A direção [da escola] não tem culpa”. Destaca-se que as opções eram acompanhadas por figuras, a direção tem culpa com rosto que chora e a direção não tem culpa com rosto que sorri, trazendo um apelo visual e imagético para os usuários da rede social. O início das publicações foi o vídeo e, sobre ele, repudiamos o tom utilizado, que pode fomentar a cultura do ódio e induzir aqueles que o assistem a deduzir que houve falha, erro e até omissão por parte da diretora da escola.
Assim, refletimos: Qual é a real concepção de escola que este legislador possui? O que ele compreende sobre a terceirização dos serviços? O que o impulsiona a divulgar uma percepção de que a diretora da escola, no exercício de sua função, pode ter tido culpa? Como ele concebe os profissionais da educação e suas rotinas de trabalho? E o posicionamento político do referido legislador sobre a seriedade da atuação de empresas terceirizadas dentro das unidades escolares? O que, de fato, o legislador reeleito tem feito pela qualidade da educação municipal? Quantas e quais escolas ele visitou durante seu mandato anterior? Quantas famílias que consideram que a escola tem poucos funcionários e gostariam de propor mudanças sobre o módulo de pessoal na escola ele realmente atendeu e ouviu em sua carreira política? Essas e tantas outras dúvidas pairam sobre as publicações do legislador. E, para aprofundar nosso repúdio, ressaltamos o teor e o ideário de “caça ao culpado” que se pode sentir diante das publicações, que pode causar na comunidade escolar a crença de que a diretora escolar foi omissa ou falhou diante do caso, uma vez que há procedimentos previstos em legislação própria, que regulamenta as ações dos gestores escolares diante casos e situações que possa haver violações e abusos contra as crianças. O gestor escolar e, portanto, a diretora da escola municipal, deve seguir a legislação em vigor e não realizar declarações especulativas, por dedução ou movidas pelo senso comum. E é este senso de responsabilidade e proteção com a criança que causa tamanho repúdio em nós, gestores de escolas municipais. Nós, gestores, somos formados para integrar a rede de proteção às crianças.

Enfim, era a terceira semana do mês de fevereiro de 2025. O início da terceira semana de aulas e o período considerado de adaptação para todos os profissionais de educação que trabalham com crianças. A escola, estava organizada com o intuito de melhor atender as crianças e, assim, desenvolver sua função social de educar, enquanto cuida. A escola iniciava seus primeiros processos para favorecer o desenvolvimento e o processo intelectual das crianças. A escola, após as férias, tornou-se viva, porque somente as crianças fazem o viver de uma escola. E todo profissional, preparado e consciente, que integra a educação, seja funcionário, professor ou gestor, servidor público ou trabalhador da esfera privada (terceirizado), reconhece que sem as crianças a vida de uma escola simplesmente desfalece.

As crianças são a base, o fundamento e o alicerce de uma escola. As crianças sustentam e guiam o trabalho administrativo e pedagógico. E a escola são as pessoas. Paredes, concreto e ferro não são capazes de garantir a existência de uma escola, quiçá a vida de uma escola. Por isso, lembramos que, quando se fala, se julga e se condena uma escola, se faz contra as pessoas. É contra os seres humanos. E quando a vida de uma criança é permeada de dor, de violação e de abuso, toda a escola padece. E se a escola padece, são as pessoas que sentem. E diretores de escola, também são pessoas, eles sentem. 


São José do Rio Preto, 20 de fevereiro de 2025

Gestores Escolares Especialistas da Educação de São José do Rio Preto.

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